O maxixe foi um gênero musical
brasileiro que surgiu em meados do século XIX, na cidade do Rio de Janeiro, como
abordam alguns autores que se dedicaram ao tema, dentre eles José Ramos
Tinhorão, Jota Êfege, Marcos Napolitano, Carlos Sandroni, José Geraldo Vinci de
Moraes. O
maxixe, como observou Crevelanti.
se formou através da influência de vários
gêneros importados da Europa, e foi por meio dos músicos nacionais, do negro escravo
e ex-escravo, dos imigrantes e de seus descendentes e pessoas que aqui viviam,
que fizeram parte deste processo de formação, que ela foi se consolidando pela
absorção de várias características.(CREVELANTI,
2009, p.128)
As primeiras notícias sobre o maxixe datam das décadas de 1870 e
1880, Marcado por um requebrado forte, pela sensualidade e intimidade do corpo,
o maxixe saiu das casas populares do bairro da Cidade Nova, para os clubes
carnavalescos, teatro de revista e posteriormente, no início do século XX,
chega a Paris como uma dança e música brasileira de sucesso. Durante seu
desenvolvimento o maxixe enfrentou diversas rejeições e preconceitos Apesar
disto, ele alcançou sucesso entre diferentes camadas sociais e para este
sucesso, como observou Crevelanti, ”o teatro musicado foi imprescindível”, pois
ele foi
principal veículo de propagação da dança
excomungada, onde sua dança era permitida. O maxixe, com suas características
de ironia, alegria, brejeirice, malícia... agradava muito o público, não só
pelas suas letras de duplo sentido como pelos movimentos dos passos sensuais e
provocantes, bem como pelo seu ritmo sincopado peculiar. Nos seus palcos,
criou-se a possibilidade de se desenvolver um rico processo de aculturação da
Música Popular Brasileira, onde se tocavam além das músicas européias
abrasileiradas, as novas criações através de gêneros nacionais. CREVELANTI,
2009, p.128)
Uma dança considerada de
baixa categoria, ritmo saltitante e passos que causavam aversão aos defensores
dos bons costumes, o maxixe surge, de acordo com alguns autores, na segunda
metade do século XIX e provocando sentimentos ambíguos como encantamento,
indignação e alegria.
O século XIX é marcado
pela difusão de novos ritmos e com novas formas de dançar resultantes das
misturas culturais existente neste contexto. Referindo-se a essa combinação
Marcílio (2009, p. 51) citando as palavras de Mário de Andrade, expõe que havia
uma dificuldade em encontrar uma música no Brasil autenticamente brasileira. Porém é com base nesta sincronia que a
música popular no Brasil adquiriu um diferencial através do ritmo, da melodia e
da dança. Estas danças populares no
decorrer dos anos vão se distanciando da formalidade das danças europeias e
adquirem características próprias com passos que levavam seus dançarinos a
ficarem mais próximos (MARTINS, 2007,
p. 3).
Nos últimos anos deste
mesmo século difundido essas novas práticas culturais ocorreriam à abertura de
inúmeros teatros, cafés-concerto, cafés-dançantes, chopes-berrantes e cinemas, isso direcionados para a classe média
da sociedade fluminense; porém, também ocorria um aumento dos locais de
divertimentos destinados a população menos favorecidas. Um dos locais bastante
freqüentados não apenas por essa classe baixa eram os bares e casas da Cidade
Nova (MOURA, 1995, p. 105). É neste espaço de acordo com Tinhorão (1975, p.
56-57) e Jota Efegê (1974, 48) que surge um dos estilos musicais, o maxixe, que
seria inicialmente desprezado, considerado imoral posteriormente conquistando
as elites brasileiras a ponto de ultrapassar as fronteiras do Brasil, onde
encontrou sucesso.
Sua coreografia, não
apresentava uma forma marcada ou rígida de dançar, mas proporcionava em uma só
dança, a forma de dançar dos negros e a organização da dança européia
(SANDRONI, 2001, p.68). Com seus passos, revelavam uma paixão, animação,
curiosidade e outros sentimentos que faziam com que fosse este estilo a ser
considerado o mais novo aspecto que definiria o nacional, (JOTA EFEGÊ, 1974, p.
52). Para expor a dança, o autor cita uma descrição feita por Duque.
O cavalheiro e a
cavalheira abraçam-se com vontade, cara com cara, corpo com corpo, o braço
esquerdo dele e o direito dela esticados e lá suam a remelexar ou pelo antigo
ou pelo moderno.
Pelo moderno é outro
anseio. O movimento dos pés é o da polca francesa, em passos mais largos.
Quando o maxixeiro dá o passo para diante, abaixa o ombro esquerdo, curvando–se
pela cinta, e a maxixeira o imita: no outro passo, erguem-se os dois como uma
ponta de gangorra, e assim se vão.
De quando em quando,
rodopiam para a esquerda em voltas vertiginosas tão rápidas que dão, a quem
aprecia, a impressão de que os dois vão cair, não se poderão sustentar naquele
doido girar-girar.
Isso tudo, porém, é
feito com graça, com suavidade nos meneios, com flexuosidade nos coleios...
(EFEGÊ, 1974, p. 52-54).
É possível ver essa
intimidade e volteios nas figurações expostas abaixo retiradas do livro “Maxixe
– A dança excomungada” de Jota Efegê (1974, p. 53) reproduzidas da Revista
Século XX, maio de 1906. Além da proximidade são demonstrados os passos
característicos da dança.[1]
Partindo para a questão do
maxixe música, que ao que parece ocorre somente no início do século XX, pode-se
dizer que suas letras apresentavam a mesma característica maliciosa da dança.
Conforme relata Marcilio as músicas eram criadas para que o público aprendesse
com facilidade. Alguns intérpretes e compositores utilizavam de suas criações
nos Teatros de Revista, este teve um papel importante na difusão do maxixe
sendo o primeiro maxixe apresentado no ano de 1884 o “Aí Cara-Dura” (CREVELANTI,
2009, p. 52)
A trajetória desta música e dança
“excomungada” até sua aceitação pelas elites da sociedade foi o que procuramos
relatar aqui. Foi possível notar, através das leituras realizadas, que não
existe uma, mas várias histórias que podem ser contadas sobre o maxixe. Mas
mesmo que estas histórias apresentem diferenças alguns pontos em comum podem
ser nelas observados, Um deles é que o maxixe, como outras manifestações
musicais urbanas, é resultado de uma mistura de ritmos, gêneros e sons. E um
segundo é de como o preconceito com o maxixe esteve relacionado com o espaço
geográfico no qual ele apareceu e às pessoas que o dançaram, geralmente pobres
e descendentes de ex-escravos. Foi este preconceito que segundo Adriana
Fernandes, fez com que a apresentação do maxixe no
Palácio da República, pela primeira dama do país, D. Nair de Teffé, provocou a
indignação do então senador Rui Barbosa que teria dito ser o acontecido:
Uma dupla afronta para a
diplomacia [...]. Primeiro, porque o Corta-Jaca era popularíssimo na época, e o
Catete deveria dar, pelo contrário, demonstrações de refinamento e distinção.
Segundo, por que foi tocado em um instrumento relacionado aos boêmios e
malandros, o violão (FERNANDES, 1995, p. 191).
Os
preconceitos em relação às manifestações culturais ligadas às parcelas mais
pobres da sociedade ainda são muito presentes no Brasil. Mas os que os estudos
sobre História e Música no Brasil vêm mostrando, como observa Vinci de Moraes,
é que
O vício de isolar as tradições
eruditas e populares da música e manter a rigidez dos gêneros – ainda
fortemente disseminado – hoje não faz mais sentido, e a historiografia vem
percorrendo novos caminhos para empreender uma história cultural da música
(VINCI DE MORAES, 2010, p.1).
BIBLIOGRAFIA
BAIA,
Silvano Fernandes. A historiografia da
música popular no Brasil (1971 – 1999) São Paulo, 2010. Disponível em:
<www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/.../2010_SilvanoFernandesBaia.pdf> Acesso em 15 abr. 2011.
CREVELANTI,
Carla Marcilio: Chiquinha Gonzaga e o
Maxixe: A nacionalização da musica popular brasileira, São Paulo,
Dissertação de Mestrado, UNESP, 2009.
Disponível
em: <http://www.chiquinhagonzaga.com/biografia/textos_nacionais/2009_chiquinha_maxixe.pdf> acesso em 10 out. 2011.
CREVELANTI, Carla Marcilio: Chiquinha Gonzaga e o Maxixe. São
Paulo. 2009.
Disponível em: <http://www.chiquinhagonzaga.com/biografia/textos_nacionais/2009_chiquinha_maxixe.pdf>
Acesso em: 15/ 09/2011.
GUERRA
PEIXE. Variações sobre o Maxixe. Jornal O Tempo. São Paulo 26/09/1954.
Disponível em:
<http://www.guerrapeixe.com/textos/texto16.html>
Acesso em: 10 abr. 2011.
EFEGÊ, Jota: Maxixe: a dança excomungada, Rio de
Janeiro Conquista, 1974
NAPOLITANO,
Marcos: História e música – história
cultural da música popular. 3° ed. Belo Horizonte MG, Editora Autêntica, 2005.
História
e música popular: um mapa de leituras e questões. Revista de
História, n.157, São Paulo, USP, 2007. Disponível em:
<http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/rh/n157/a08n157.pdf>
Acesso em: 12 set. 2011.
TINHORÃO,
José Ramos, Pequena História da musica
popular: da modinha a canção de protesto, Rio de Janeiro, Editora vozes, 2°
Ed, 1975.
História Social da música popular
brasileira, São Paulo, Ed.34, 1998.
A
música popular no romance brasileiro:
Século XX, São Paulo, Ed.34, 2002.
VELLOSO Mônica Pimenta. A
escrita e a dança: Uma genealogia literária da nacionalidade. Revista Rio
de Janeiro, n. 20-21, jan.-dez. FCRB, 2007.
Disponivel
em: <http://www.forumrio.uerj.br/documentos/revista_20-21/Cap-12-Monica_Velloso.pdf
> Acesso em: 01 out. 2011.
“É quase
impossível falar de homens que dançam” Representações sobre o nacional -
popular. USP.
Fênix – Revista de História e Estudos Culturais Outubro/ Novembro/
Dezembro de 2007 Vol. 4 Ano IV nº 4
Disponível
em: <http://www.forumrio.uerj.br/documentos/revista_20-21/Cap-12-Monica_Velloso.pdf> Acesso em 15 nov. 2011
VINCI DE
MORAES, José Geraldo. Modulações e
novos ritmos na oficina da História, USP, 2005. Disponível em:
<http://www.fflch.usp.br/dh/pos/hs/images/stories/docentes/JoseMoraes/Texto_Igaci.pdf
> Acesso em: 15 jun. 2011
História e música: História Cultural da música popular, Belo
Horizonte, Editora Autentica, 2005.